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O que dizem as equipes de Lula e Ciro sobre a política econômica do próximo governo?

Por Luciano Alencar Barros [1]

Com as eleições cada vez mais próximas e a possibilidade de vitória de uma candidatura progressista, cresce o interesse pelos programas econômicos dos principais candidatos de esquerda. Enquanto as equipes econômicas montam seus respectivos programas, a mídia e grupos de interesse pressionam para volta-los para determinadas direções. Mas afinal, o que têm a dizer os assessores econômicos dos principais candidatos à presidência?

Buscando responder a essa pergunta o Monitor do Novo Debate Econômico entrevistou, entre o final de 2021 e o início de 2022, Nelson Marconi, assessor de Ciro Gomes, e Guilherme de Mello, membro da equipe de Lula. Os temas abordados dizem respeito às políticas fiscal, monetária, cambial e de preços da Petrobrás, além da questão tributária e das pautas social e ambiental.

Os dois assessores econômicos convergem em boa parte dos temas, em especial nos objetivos da política econômica. Os meios para tal divergem levemente, de modo que a principal diferença entre os dois parece dizer respeito ao patamar do câmbio desejável.

Teto de gastos e regra fiscal

Os assessores dos principais candidatos à presidência do campo progressista concordam que a atual lei do teto de gastos é totalmente inviável e precisa ser revista. Em seu lugar ambos propõem regras mais flexíveis que viabilizem determinados gastos e investimentos sociais e ambientais e que estabilizem a dívida pública a prazos maiores, por meio do crescimento econômico e da elevação das receitas, e não via contensão de despesas.

Taxas de juros e de câmbio

Ambos assessores defendam juros baixos para estimular o crescimento econômico sem depreciar excessivamente o câmbio e entendam que a política monetária deva ter um peso menor no arranjo econômico. Algumas diferenças surgem, no entanto, quando o assunto é política cambial.

Enquanto Marconi (PDT) defende uma taxa de câmbio entre R$4,80 e R$5,00 (por dólar) de modo a igualar interna e externamente os custos unitários do trabalho, Mello (PT) propõe um câmbio competitivo, mas não excessivamente depreciado. Sabe-se que o PT historicamente se utilizou de um real valorizado para conter a inflação, focando mais o mercado doméstico. Neste sentido o assessor de Lula enfatiza a importância de debater sobre regulação cambial e dos fluxos de capital, bem como o papel do Banco Central no mercado futuro.

Reforma tributária

Tanto Guilherme de Mello quanto Nelson Marconi defendem uma estrutura tributária mais progressiva, que onere menos que ganha menos e mais quem ganha mais. Neste sentido, as propostas convergem para reduzir os impostos sobre consumo e aumentar os impostos diretos sobre a renda e a riqueza.

Mudanças na Petrobrás

Ambos economistas concordam que a Petrobrás deveria ter um papel mais ativo na economia em favor do povo brasileiro, aumentando sua capacidade de investimento e focando na transição energética para uma economia mais verde. Outro ponto em comum é a busca por uma maior estabilidade dos preços dos combustíveis por meio de algum tipo de fundo de estabilização, cujos recursos adviriam da taxação da exportação de petróleo bruto ou dos dividendos da União.

Políticas social e ambiental

Tanto o assessor de Ciro quanto o de Lula entendem que as pautas ambiental e social são urgentes. Os graves problemas sociais do país só começarão a ser resolvidos por meio de um crescimento econômico mais inclusivo, munido de políticas sociais. E a urgência da questão ambiental requer, dentre outras coisas, a transição energética para uma matriz mais verde (processo no qual a Petrobrás deve desempenhar papel central), e um melhor manejo dos nossos recursos ambientais, como a floresta amazônica.

Em resumo…

Tanto o assessor do PT quanto o do PDT entendem que é necessária uma política fiscal mais ativa para contornar as crises social e ambiental; que os juros devem ser baixos e o câmbio competitivo; que é preciso realizar uma reforma tributária progressiva e fortalecer e reorientar a Petrobrás. A principal diferença parece estar no patamar ideal do câmbio, aparentemente mais valorizado na visão de Marconi do que na de Mello. 


[1] Doutorando em economia pela UFRJ e pesquisador do MNDE.

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