O Monitor do Novo Debate Econômico (MNDE) é um agregador de informações públicas sobre as novas maneiras de pensar a economia expressas no debate econômico da grande imprensa e em outros fóruns da esfera pública.
O preço caro que pagamos
Por Luciano Alencar Barros
Com o advento da pandemia observa-se uma enorme redução do poder de compra dos salários no Brasil. Por um lado, a renda do trabalho caiu entre 2020 e 2021, e por outro os preços dispararam no mesmo período: a inflação acumulada em 12 meses foi de cerca de 9%[1]. Mas o que explica essa disparada?
No plano internacional a pandemia desarticulou diversas cadeias produtivas, reduzindo a potencial oferta de produtos. O recente processo de recuperação econômica, por sua vez, tende a acelerar a demanda. O resultado desse descompasso foi uma disparada dos preços internacionais de insumos e produtos. Entre julho de 2020 e o mesmo mês deste ano os preços internacionais do petróleo e dos alimentos aumentaram, respectivamente, mais de 70% e de 30%[2]!
Como a Petrobrás precifica seus produtos de acordo com o mercado internacional, aumentos no preço do petróleo no mercado mundial rapidamente se refletem internamente nos preços dos combustíveis, que por sua vez se propagam por toda a cadeia produtiva que deles depende.
No que tange os alimentos, o aumento dos preços internacionais faz com que a sua exportação fique cada vez mais atrativa em relação à sua oferta no mercado doméstico. E com menos oferta interna o preço tende a crescer. Esse processo é intensificado por conta das quebras de safra (por conta da seca e do frio, por exemplo); pela redução dos estoques reguladores por parte do governo – que deixa os preços à mercê das flutuações abruptas do mercado; e pelo incentivo ao agronegócio em detrimento à agricultura familiar, mais voltada para o mercado doméstico.
Outro fator que impulsiona fortemente a inflação, inclusive dos alimentos, é o câmbio. Um câmbio desvalorizado, isto é, um dólar que vale cada vez mais reais, torna cada vez mais atrativa a exportação em detrimento à produção para o mercado doméstico. Além disso o dólar forte encarece a importação de produtos que competem com a produção nacional, e de insumos, encarecendo a produção doméstica que os utiliza.
E para além de tudo isto ainda observa-se uma crise hídrica que, combinada com a falta de planejamento do governo federal, encarece a energia elétrica. Isto aumenta não só o preço da conta de luz de consumidores individuais, mas – a exemplo do petróleo – impacta a estrutura de custo de toda a economia.
Em resumo: frente a um cenário internacional com tendências inflacionárias, as políticas econômicas apenas contribuem para a aceleração da inflação, por meio do câmbio desvalorizado, pela falta de planejamento do setor elétrico, pela política de precificação da Petrobrás, pelo abandono da política de estoque reguladores de alimentos e pelo incentivo ao agronegócio em detrimento à agricultura familiar. E quem paga o preço caro dessas políticas é todo o povo brasileiro.
[1] O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) entre julho de 2020 e o mesmo mês de 2021 registrou o valor, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, de 8,99%.
[2] O preço do petróleo foi obtido no site do Fundo Monetário Internacional, enquanto o índice de preços dos alimentos internacionais é da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura.